20 julho 2014

Have you ever seen the rain?

Na casa ao lado, uma festa. Música boa desta vez, daquelas que sopram vontade de dançar com o vento. Algumas risadas. Taças tilintando. Fotos. O prazer. Ainda que momentâneo. I wanna know, have you ever seen the rain? Coming down on a sunny day? Em momentos assim, não há dúvidas umedecendo a alma nem mágoas que precisem ser afogadas.

Outro vizinho franze a testa à janela, quando se aproxima dela para averiguar a origem da alegria. Yesterday, and days before, sun is cold and rain is hard, I know, been that way for all my time. Mais do que o barulho, ela incomoda, sobretudo se manifestada por outrem da mesma espécie.

Era uma festa de casamento simples -- a festa, porque casamento nunca é simples. Nem no começo, nem no meio, nem no fim. E sempre tem fim, ainda que tenha sido infinito. When it’s over, so they say, it will rain a sunny day, I know, shining down like water.

O vestido daquela noiva farfalhava, acompanhando seu coração. O noivo cantava alto junto aos amigos and forever, on it goes, through the circle, fast and slow, I know, it can’t stop, I wonder, externando empolgação. Aqueles olhos tinham brilho. Ou podia ser o luar.

A vizinhança penetra, amargando a solidão dos sábados à noite, trovoava descompasso. O eco que a música fazia naquela rua tão oca retinha-lhe o sonho. Trancada em si mesma, só ouvia o incômodo, que desaguava em uma chuva de impropérios: ah, vá, tem graça celebrar uma união! Se eu fosse eles, morava junto antes. Eles se conheceram pela internet, não vai dar certo. Por enquanto é só na alegria, quero ver é na tristeza. Ô precipitação. Someone told me long ago there’s a calm before the storm, I know, it’s been coming for some time.

Tudo porque naquela casa era a felicidade que chovia. O importante, ali, naquela noite, era o amor que dançava.

Psiquê reanimada pelo beijo do Amor, escultura de Antonio Canova/Museu do Louvre.