A mulher lia a carta.
A carta desconfiava da mulher.
A rua olhava as duas.
Na sombra.
A carta desconfiava da mulher.
A rua olhava as duas.
Na sombra.
A carta chegava mais perto da vista da mulher.
A mulher decifrava a caligrafia da carta.
A rua acolhia as duas.
Na subida.
A mulher decifrava a caligrafia da carta.
A rua acolhia as duas.
Na subida.
A mulher não entendia o que lia na carta.
A carta tentava explicar-se para a mulher.
A rua ajudava as duas.
Na largura.
A carta tentava explicar-se para a mulher.
A rua ajudava as duas.
Na largura.
A carta emocionava a mulher.
A mulher chorava na carta.
A rua amparava as duas.
No chão.
A mulher chorava na carta.
A rua amparava as duas.
No chão.
A mulher sentou-se para dar mais tempo à carta.
A carta encompridou-se para auxiliar a mulher.
A rua esperava as duas.
No comprimento.
A carta fez suspirar a mulher.
A mulher dobrou a carta.
A rua assistia às duas.
No silêncio.
A mulher entrou em casa para guardar a carta.
A carta guardou as emoções da mulher.
A rua guardou as duas.
No anonimato.
A carta encompridou-se para auxiliar a mulher.
A rua esperava as duas.
No comprimento.
A carta fez suspirar a mulher.
A mulher dobrou a carta.
A rua assistia às duas.
No silêncio.
A mulher entrou em casa para guardar a carta.
A carta guardou as emoções da mulher.
A rua guardou as duas.
No anonimato.
História da foto: Em um dos passeios que fiz quando viajei para Portugal, em 2005, visitei um vilarejo com as casas todas branquinhas. Não havia ninguém na rua, exceto eu. De repente, a mulher da foto sai da casa dela, verifica a caixa de correspondência e pega uma carta. Ansiosa, senta-se ali mesmo e começa a ler. Eu não sei quem era aquela mulher nem o que havia na carta. Mas nunca presenciei uma manifestação de emoção confusa, solitária e espontânea como foi a daquela mulher, que não pude deixar de fotografar.
6 comentários:
Legal!! (A foto e a poesia) :)
bjs,
Jana
Amei, Lindo demais!!!!
Essa foto me lembrou daquela cena que presenciamos no Maranhão. Qdo nos perdemos no Centro velho de S. Luis e fomos parar na Rua das Meretrizes. Lembra?
Só que ao contrário da velha emocionada, havia a pobre mulata, de cabelos arreganhados, catando piolho da cabeça do filho...
Triste dos poetas, que tiverem de fazer poesia, com a realidade cruel de nosso país...
Prefiro, como vc a velha portuguesa das cartas... Mas, que me lembrei da mulher maranhense, lembrei...
BJSSSSSSSSSS
Lindo, lindo. Extremamente poético e bem descritivo.
Kandy, sabia que já passei um tempinho em Portugal, em 1998? Que lindas lembranças você resgatou em mim! Na terra do meu pai, no Alentejo, há milhares de ruazinhas iguais à da foto e do seu poema. :-)
Depois vc me diz que nunca foi boa em escrever poesia. Como assim ?
as duas que vc ja publicou aqui sao maravilhosas... como todos os seus textos...
E essa foto ?
Pelo amor de deus... é linda, e muito poética... muito linda... parabéns minha amiga escritora-fotógrafa
bjs
Adoro tudo que você escreve...
Par.IS
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