— Ah, sim! Oi, tudo bem? Eu ia mesmo ligar pra você... Você já tem algumas cotações pra me passar?
— Tenho, sim, claro. Mas já vou te avisando que o valor subiu um pouco, não se assuste. E olha que tentei pechinchar. Consegui diminuir em quinhentos reais, mas ainda ficou bem mais caro que no ano passado...
— O curioso é que o carro é o mesmo e não houve sinistro, então, eu deveria ter bônus...
— É, mas você teve bônus e mais descontos por ter vacina antifurto no carro, alarme, por ter mais de 25 anos, ser mulher, deixar o carro em garagem de dia e de noite e...
— Fala logo qual vai ser a facada...
— Dois mil. Chorados, hein?
— Você tá louco?! O meu carro é popular!
— Justamente! E é o popular mais visado!
— Claro que é o mais visado! Pois foi o mais vendido! Se foi o mais vendido, há mais dele na rua, portanto, é mais roubado. Isso é lógica, eu não tenho culpa de ser pobre e só ter dinheiro pra comprar um carro popular, que, se foi o mais vendido, é porque, na época, era o melhor negócio...
— Calma. Olha, eu vou te explicar: há vários fatores que encareceram o seguro do seu carro.
— Por exemplo?
— As autopeças originais aumentaram em 300%, você não mora em apartamento e...
— Quê? O fato de eu não morar em apartamento encarece o meu seguro? Que absurdo!
— É que, estatisticamente, as pessoas que moram em apartamentos têm menos probabilidade de serem roubadas quando chegam em casa, porque é mais seguro...
— Ah, então eu não posso mais morar em casa?
— Pode, só se for em condomínio fechado... aí você tem o desconto.
— Mesmo não concordando com essa insensatez, quais os outros fatores que influenciaram no preço?
— Então, o modelo do seu carro não é mais fabricado e você mora na zona leste da cidade, onde, de acordo com as estatísticas, há mais incidência de roubo...
— E eu tenho culpa de morar em reduto de ladrão? Analise comigo: se os ladrões moram aqui ou se vêm roubar mais aqui é porque aqui é mais barato pra morar e tem mais carro popular e menos segurança; logo, é onde as pessoas mais simples, as que não têm dinheiro pra comprar casas e carros caros, moram. Se elas não têm como pagar por casas e carros melhores, por que têm de pagar mais por morarem onde moram? Não faz sentido!
— Pule essa parte do sentido. E eu ainda não terminei. O outro fator é, bem, eu tenho de falar, né, você perguntou... é porque você é solteira...
— Ã?! Eu tenho de pagar mais caro porque eu sou solteira?! Ah, era o que me faltava!
— É que, estatisticamente, as pessoas casadas saem menos de casa de carro, então, as solteiras são mais roubadas, e as companhias de seguro levam isso em consideração.
— Isso deve ser uma pesquisa manipulada, pra variar. Tem muito casado que sai mais do que muito solteiro. E, se isso não bastasse, além de não haver no mercado homem livre, desimpedido e bem-resolvido, eu ainda tenho de pagar por isso?! Eu é que sou a vítima dessa escassez! Eu deveria receber uma indenização em vez de pagar!
— Olha, se serve de consolo, você é uma mulher bonita, inteligente, logo, logo acha alguém e...
— Não é o que a Veja diz. De acordo com ela, as mulheres de 30 anos têm apenas 27,6% de chance de se casar! Aos 35 isso vai para apenas 19,2%! Então, estatisticamente, como você enfatiza, eu tenho mais probabilidade de continuar pagando meu seguro cada vez mais caro!
— Pensando por esse lado, é verdade. Sinto muito...
— Obrigada pela solidariedade. Mas tá errado! Tudo errado! Além de eu discordar da Veja por ela propagar esse tipo de estatística inútil que só reforça determinados preconceitos, os ricos têm grana pra pagar seguro, os bem pobres não têm carro, então, pessoas como eu, que não têm dinheiro pra ter carro bom, têm de pagar por tudo. Se eu ainda tivesse um carro com ar e direção, vá lá...
— Coitada! Bem, mas olha a boa notícia: você paga em quatro vezes sem juros! Fechado? É débito em conta como no ano passado, né? Dia 30 tá bom? Te mando a apólice amanhã!
— Isso é mesmo deprimente, não? Ainda ter de dividir em quatro vezes a minha indignação...
— É que, estatisticamente, as pessoas casadas saem menos de casa de carro, então, as solteiras são mais roubadas, e as companhias de seguro levam isso em consideração.
— Isso deve ser uma pesquisa manipulada, pra variar. Tem muito casado que sai mais do que muito solteiro. E, se isso não bastasse, além de não haver no mercado homem livre, desimpedido e bem-resolvido, eu ainda tenho de pagar por isso?! Eu é que sou a vítima dessa escassez! Eu deveria receber uma indenização em vez de pagar!
— Olha, se serve de consolo, você é uma mulher bonita, inteligente, logo, logo acha alguém e...
— Não é o que a Veja diz. De acordo com ela, as mulheres de 30 anos têm apenas 27,6% de chance de se casar! Aos 35 isso vai para apenas 19,2%! Então, estatisticamente, como você enfatiza, eu tenho mais probabilidade de continuar pagando meu seguro cada vez mais caro!
— Pensando por esse lado, é verdade. Sinto muito...
— Obrigada pela solidariedade. Mas tá errado! Tudo errado! Além de eu discordar da Veja por ela propagar esse tipo de estatística inútil que só reforça determinados preconceitos, os ricos têm grana pra pagar seguro, os bem pobres não têm carro, então, pessoas como eu, que não têm dinheiro pra ter carro bom, têm de pagar por tudo. Se eu ainda tivesse um carro com ar e direção, vá lá...
— Coitada! Bem, mas olha a boa notícia: você paga em quatro vezes sem juros! Fechado? É débito em conta como no ano passado, né? Dia 30 tá bom? Te mando a apólice amanhã!
— Isso é mesmo deprimente, não? Ainda ter de dividir em quatro vezes a minha indignação...
10 comentários:
Olá! Eu dei muita risada com essa capa da Veja. Inagaki que adora dizer, e eu concordo plenamente: 78,6% de todas as estatísticas existentes são totalmente furadas. Em tempo, sugestão de seguro: troque seu Gol por um carro popular menos visado, como um Fiat Uno... :)
Pois é Kandy... Estatísticas não são argumentos... Mas as estatísticas têm um privilégio que sempre me fascinou e que nós, seres humanos, não temos: a misteriosa "Margem de Erro"... Já pensou se tivéssemos cada um uma "Margem de Erro" própria... seria interessante dizer: "Isso não é comigo... mas veja na minha Margem de Erro..." Sobre a Veja desta semana: quanta bobagem... Sobre a indústria de seguros tenho um rankin das atividades empresariais mais cínicas que pode haver. São elas (pela ordem): Planos de Saúde, Bancos, Seguros e Imobiliárias... Gde abraço!
Isso é realmente um absurdo...
eu tb achei ridicula a capa da veja...
Pra que uma capa dessas ? Não tem nada de importante acontecendo no Brasil, né ? O país ta uma maravilha, sendo que o unico problema são as pessoas solteiras...
Ninguem merece...
é por motivos como esse que não gosto da veja...
Por essas e outras que eu faço minhas próprias estatísticas, afinal não sou apenas um número.
E como ser humano, com livre arbitrio afirmo que cada um de nós escreve nossa história e se você não copiar a história de ninguém, automaticamente você não fará parte de nenhuma estatística. Sua história será única.
Portanto: viva a sua história e não dê bola para a torcida, nem para os pessimistas de plantão, muito menos para estatísticas...
O pior não são as estatísticas... é as pessoas olharem para mim e dizerem: "Eu vi a revista desta semana e me lembrei de você."
Ninguém merece!!!!!!
muito bom...só vc mesmo kan
Kandy,
Eu fui uma das pessoas que lembrou de você quando viu a revista...
Mas isso porque tínhamos conversado sobre a renovação do seguro do seu carro um dia antes, e pelo seu ótimo senso de humor.
Falando sério, mande às favas estatísticas ridículas como essa.
Pode ser que a chance de uma pessoa se casar seja de 1%. E daí? Você pode ser esse 1%!
Tenho em algum lugar uma ótima frase sobre estatística. Se eu encontrar, prometo que publico aqui no seu blog.
Abaixo às estatísticas ridículas!
Leo
Que delícia ler um texto inteligente, cheio de humor, bem escrito por... uma mulher!
Adorei, já add aos favoritos. Falta-me tempo para fuçar, mas tentarei ler teus posts.
Abs!
Devo discordar totalmente! Quando falamos de seguro de automóvel, as estatísticas são confiáveis porque seguro é baseado em análise de risco. E análise de risco é baseada em estatísticas. Ao longo do texto você mesmo expõe as provas que justificam as estatísticas. Você simplesmente não quer entender. É lógico que os solteiros saem mais de casa e portanto se expõe mais ao risco, é lógico que morar em apartamento o risco é menor, é lógico que em regiões mais pobres o risco é maior.
Postar um comentário