
Hoje é dia de pregar botão, de alinhavar tudo o que está solto, pôr para lavar o encardido, tirar o edredom da cama, porque é quase verão, e a preguiça teima em enrolá-lo ao pé da cama todos os dias — isso sufoca.
Hoje é para jogar fora aquele monte de coisa que recebo pelo correio e que me informa o que eu já sei. Tirar o pó, limpar o teclado, mudar de idéia. Está na hora de arquivar a tonelada de documento que se empilha há dias em cima de mim — isso oprime. Trocar a cor da tinta, escrever com outra caneta, colocar para reciclar algumas embalagens que, sei lá, eu cismei de guardar por algum motivo que já fugiu de mim.
É porque hoje acordei de outra cor, com uma disposição daquelas de lavar carro, mas vou lavar mesmo é meus pecados, minhas lamúrias e toda sorte — aqui seria melhor escrever "azar" — de quinquilharias emocionais que andam atopetando de cólera todos os meus armários.
É dia de devolver para a estante os livros que não estou lendo, mudar a folha do calendário, porque o mês novo já entrou faz um tempo e eu nem percebi. A vontade é mesmo tirar da frente o que confunde minha visão, aquele monte de formas que olham para mim toda hora pregadas no quadro de avisos. Já avisaram o que tinham para avisar. Está na hora de saírem de lá.
Agora é a hora de parar de implicar, parar de amontoar as roupas em cima daqui e de lá, esperando a hora de arrumar. É hora de parar de esperar. Sacudir a moleza e mandá-la passear. De preferência, lá para a Capadócia, que é onde a gente pode ser bem mole até ver o tempo parar.
Hora de acabar com os restos de xampu, com o nunca que a gente enfia nas gavetas achando que um dia vai usar. Hora de doar, pôr para circular, desfazer-se tirando todos os nós, andar descalço, vestir roupa leve, esfoliar o cérebro para deixar só essência.
Hoje, minha gente, é dia de ver orquídeas, de andar florido, de encher a casa de lírios, de sentir perfume bom, cheiro de bolo quente, pão doce ou bom humor.
É dia de simples, de dançar, de rodopiar até ficar tonto no meio de tanta coisa para fazer. Dia de deixar o que é chato para lá. Porque a vontade de verdade é de paz.
Para quem é de São Paulo e está a fim de ver orquídeas, o Orquidário Morumby é uma boa pedida. A exposição "Festival da Primavera" vai até dia 28/10/2007, e, para entrar, basta levar um quilo de alimento não perecível. Você vê beleza e ajuda o próximo. Ótima maneira de ficar em paz.
Os lírios da paz que ilustram o post são um pedacinho do meu quintal que escaneei, usando como fundo um presente lindo que ganhei da Cleu Sampaio, junto com uma bolsa linda que ela fez para mim, porque ela transforma a arte que vai dentro dela em objetos personalizados que combinam com a alma. Passa lá para ver...