22 janeiro 2010

Depois de amanhã

Engenho Central - Piracicaba - SP


Somos um galpão que se esvazia todos os dias. Na vastidão do chão imenso, é comum sentirmo-nos pequenos, porque ele reflete o que inexiste: o que gostaríamos de ter sido, o que deveria ter sido dito, as histórias que não vivemos, as pessoas que não conhecemos, os lugares que não visitamos, os gostos que deixamos de experimentar, as páginas que preferimos não ler.

Somos um galpão que se enche todos os dias. Na agonia da falta de espaço, é comum sentirmo-nos pequenos, porque ela reflete a bagunça que somos: as ideias inacabadas, os dias intermináveis, as indecisões que se arrastam fazendo um barulho incômodo, distorções, indisciplina como fronha do travesseiro, imaturidade misturada a uma sopa insossa.

Pequenos nós somos, por mais adultos que achemos ser. Porque enchemo-nos e esvaziamo-nos dia sim outro também, encontrando espaço para conservar o que acabamos de descobrir, ao mesmo tempo que despejamos em caixas robustas o que poderíamos ter aprendido.

Apesar de menores, entretanto, podemos ser grandes nas intenções, no porvir, no calendário que ainda não estreamos. Porque é disso que somos feitos: de um eterno preparo para o breu à nossa frente, que, sabemos, um dia vai se descortinar...