16 julho 2010

Isto é só

Um senhor em Barcelona, batendo à porta de si mesmo

A gente só tem a gente. No fundo, lá no fundo, essa é a realidade. Qualquer outra interpretação é espera. No outro. Que o outro fale, que o outro perceba, que outro entenda. Não entende. Porque não é a gente. Imagina que entende, mas não enxerga porque os olhos são outros, ainda que da mesma cor.

A gente só tem um: o íntimo ou o espírito, o pensamento ou o sexto sentido. Fala um de cada vez, mas a gente cisma em ensurdecer por dentro e ouvir um outro. O alheio parece mais sábio, tem mais razão. Fala mais alto.

Qualquer boa vontade alheia é lucro. Ou caridade, compaixão, gentileza, consideração. Com um pouco de sorte, amizade; mais sorte ainda – muito mais! –, amor. Mas tudo isso não é da gente, é de quem o tem. Porque a gente, ah, a gente sabe, no fundo, lá no fundo, que não tem ninguém.


P.S.: Escrevi este texto no interminável trânsito paulistano, nesta noite chuvosa de sexta-feira. Parei em uma padaria e tive a sorte de encontrar pão de laranja quentinho. Ao sair, dei de cara com uma obra grande e li na placa do arquiteto o nome da minha melhor amiga-irmã. Isso me sacudiu, sobretudo porque passo ali diariamente e nunca havia visto a tal placa. Talvez, no fundo do no fundo-lá no fundo, a gente tenha alguéns, sim.