03 setembro 2010

Intervalo

"Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe."


Cansamos os dois.

Um do outro.

Seu jeito infinito de pensar no sem-fim emudeceu minha concisão. Minha forma apressada de antecipação amarrou sua liberdade de passear em probabilidades. E ficamos ambos aprisionados no frio que habita o estômago e na aridez que seca as palavras. Falamos apenas silêncio, tão imenso ele, que abraça um milhão de interpretações. Perdemo-nos ainda mais.

Um do outro.

De você, ficam sentimentos que o coração quer guardar, mas que a razão estrangula, como se ficasse infecunda e raivosa de repente. De mim, ficam a impaciência, a precipitação, o presságio de um futuro que desconheço. Ambos fomos acuados pelo medo. De amar. Um, mais; outro, demais. Ficamos ausentes na própria existência.

Um do outro.

Descansamos os dois.

Cabo da Roca, Portugal

Para Desirée, pela penúltima frase, que semeou o texto.