10 agosto 2008

Como o amor se multiplica

Querido Erik,

Há um ano e dez meses eu aprendi como começa o amor. Há nove meses você me ensinou como ele se multiplica. Uma responsabilidade e tanto para alguém tão pequeno, mas já cheio de personalidade.

Digo isso por causa do seu nome. Depois de uma pesquisa etimológica (deixa eu explicar: é uma pesquisa que a gente faz para saber de onde as palavras vêm), eu descobri que o nome que seu pai escolheu para você é escandinavo, quero dizer, vem de um lugar bem longe, onde hoje é a Suécia, pois foi o nome de um viking, um cara ruivo e barbudo, meio bravo, mas bem fortão e corajoso. Significa “governante honrado”. Quer mais personalidade que isso?

Pois é possível: você, como eu, além de ter “k” no nome, é leonino. E ainda nasceu num dia cheinho de oitos, o número da prosperidade, no mesmo mês que eu. O mundo, de fato, ficou bem mais azul dia 8. Tão azul que até choveu. Chovia lá fora da maternidade e dentro da gente, de alegria. Todo mundo chorou quando você chegou, porque você emociona, sabia? Além disso, tem uma família amorosa, que vai cuidar muito bem de você e ensiná-lo a ser cavalheiro, educado, honesto, bem-resolvido, gentil, amigo da sua irmã e feliz, porque isso é ser honrado e saber governar a própria vida.

Já que seremos cúmplices, deixa eu te contar um segredo: eu fiquei sabendo da sua existência antes mesmo da sua mãe. Sonhei que ela estava grávida no dia em que ela o concebeu. Bom, ela está um pouco assustada com isso até agora, mas um dia ela se acostuma. Além dessa coincidência, o médico queria que você nascesse no dia do meu aniversário. Mesmo tendo nascido uma semana antes, você foi um presente para mim, porque eu ganhei outro afilhado. Não foi um presente de aniversário, foi de Natal, numa carta linda que sua mãe escreveu para mim, pedindo para eu aceitar você como afilhado. Isso foi bem fácil, embora eu ainda não saiba como é ser madrinha de um menino, outra coisa que você vai me ensinar.


De minha parte, além de um português impecável, posso ensiná-lo a se divertir, a ver o mundo colorido, a conhecer os clássicos da música e da literatura (calma, eu seleciono os mais legais), a entender as mulheres (isso será bem útil daqui a uns anos, pode me cobrar!), a gostar de teatro, de cinema, de circo e, com um pouco de sorte, de livros, que é o que eu sei fazer. E, cá para nós, o mundo das letras é um lugar interessantíssimo para onde você pode ir sempre que quiser conhecer qualquer coisa.

Você foi muito desejado, e é tão prestativo que veio rápido, um tantinho antes do planejado. Seus pais pintaram a fachada da casa de azul — justo azul! — e fizeram um quarto de selva para receber você. Eu ajudei (e quase morri de cansaço na 25 de Março, uma rua doida que tem aqui, um dia eu te conto), o tio Bruno fotografou e pudemos deixar tudo bem bonito para você. Mas você é tão lindo pessoalmente que vamos ter de rever as imagens...

Pelo andar da carruagem (ai, isso é muito antigo!), você estará sempre à nossa frente, principalmente se decidir ser atleta como a sua mãe e sair correndo desembestado. Assim, vai longe. Mas estarei sempre com você (no caso das corridas, confesso, bem atrás, porque não sou adepta da prática esportiva...), orgulhosa por tê-lo como afilhado e amigo.

Você vai ser plenamente feliz, vai crescer forte e saudável, vai ser amistoso com as pessoas e bastante alegre, porque já é muito amado e encanta todo mundo. Isso foi outra pequena coisa que você me ensinou: agora eu entendo, sorrindo, quando as pessoas me perguntam: “está tudo azul?”. Quem conhece você sabe que sempre vai estar, e isso vai além da fachada da sua casa.

Um dia você vai ler esta carta, que estará dobradinha, com a minha letra, dizendo em cada palavra o quanto esta madrinha te ama desde o mundo dos sonhos.

Um beijo demorado na sua bochecha vermelhinha,

Kandy