09 abril 2012

Sempre em frente


Páscoa, dia em que se fala muito em renascimento, ressurreição, transformação. Mas será mesmo que temos o poder de renascer, sobretudo quando vivenciamos uma tristeza profunda, uma perda, uma decepção irreparável? Será que, se quisermos, de verdade, com uma vontade genuína bem lá do fundo, conseguimos transformar a realidade interior ou exterior?

Pergunto, porque às vezes tudo parece imutável demais o tal do destino. A gente olha para um lado, olha para o outro, e parece enxergar sempre a mesma coisa, por mais ângulos diferentes que procuremos. A verdade parece estar lá, de um jeito irritantemente implacável, como se fizesse questão de esfregar na nossa cara justamente e com uma ironia maquiavélica o que fazemos questão de não ver. A gente desvia o olhar, vira o rosto para lá, mas não adianta. Ela ecoa bem alto e fica martelando, martelando, martelando, até a gente ouvir. E como as palavras machucam quando ouvidas assim, dentro dessa teimosia.

Viver intensamente tem dessas. Às vezes a gente quebra mesmo a cara. E bonito. O problema é que isso deixa cicatrizes que reluzem no espelho toda vez que a gente se enfrenta. E aí, se bobear, acabamos nos escondendo de nós mesmos, para evitar o confronto, a dor, as lembranças, para não forçar o corpo a sentir tudo de novo, porque memória não fica só no cérebro. Ela invade cada terminação nervosa e devasta todo cantinho da gente, sem dó.

Se foi um erro, melhor, aprendamos com ele. Mas e se fizemos tudo certo e a vida é que nos deu a bofetada que ainda arde? Devemos insistir, respeitando nossa natureza humana, ou desistir, aceitando o que não pode mudar? Devemos ter fé, depositando esperanças em algo impalpável e desconhecido, ou lidar com o real, com o prontoeacabou?

Essa enxurrada de emoções confusas deve acometer o ser humano desde os primórdios. Muita gente já morreu desse mal. Ainda hoje ainda morre. Tem muito fulano que se mata por não ter coragem de olhar para dentro de si ou de lutar contra uma frustração. Foge dela. Porém, há os que renascem. Para os primeiros, sobram os obituários. Aos outros, um caminho novinho em folha, clamando por ser experimentado.

E lá vamos nós. Vai doer, a gente sabe. Se não for assim, não é humano. A coragem de conviver com o dolorido não é algo divino. O destino é que deve ser, vai saber.

O que sabemos é que, fosse a causa da morte qual fosse, os sábios gregos não escreviam obituários. A respeito de quem morria, apenas se perguntavam: “viveu com paixão?”.

Eis a chave da ressurreição.

Atibaia, SP