27 julho 2009

Reticências

Estação de metrô de Paris


Gosto de ouvir a música enquanto os créditos do filme passam. Quando todo mundo já deixou o cinema, quando aparentemente já não há mais nada para ver.

A música do fim de filme acompanha uma solidão toda minha. Geralmente bonita – a música, nunca a solidão –, prolonga em mim a sensação do que acabei de ver, penetrando em meus poros amores que não tive, mortes que não chorei, chuvas que não tomei, ressentimentos que não vivi.

É nesse momento que mais me emociono. Quando não há mais ninguém no cinema para assistir, quando não há mais a esperar, quando o escuro ainda permite fruir tudo o que, sentada, de mão dada com ela – sempre ela –, eu pude desejar para mim, mesmo chorando uma tristeza que não é minha, despedindo-me do que não me pertence, sentindo o vento de lugares aos quais nunca fui, a maciez de um verde no qual nunca pisei.

Quando para todo mundo o filme acabou, como quem termina uma salada ou deixa a sala de aula após o sinal, sou do contra: permaneço. E me permito pensar, sem iludir os olhos ou ter o coração tomado por uma beleza de cinema.

Porque, para mim, a música que embala o fim é sempre apenas o começo.



Dois filmes cujas músicas do final fazem pensar: Paris, te amo e Ao entardecer.