05 novembro 2008

Sente-se ao meu lado

Ouça a música (Sit Down, de James) enquanto lê o texto, preferencialmente sentado:





Hoje, olhando a tarde morrendo, vi que a cadeira ao meu lado estava vazia. Dirigindo para casa, senti, como sempre, o banco vazio ao meu lado vazio. Queria alguém sentado ali, ao meu lado, com quem eu pudesse conversar sobre óperas e violinos ou para quem eu pudesse falar sorrisos.

Sinto falta de alguém que se sente ao meu lado apenas para me fazer companhia, sem segundas intenções, sem querer se aproveitar da minha competência, da minha influência, da minha demência; sem vontade de cavoucar o que penso, de adivinhar minha alma, sem curiosidade de atravessar meu reflexo. Alguém que me visse no escuro, sem se importar com os fios do meu cabelo que porventura estivessem fora do lugar — eu vivo despenteada.

Sentar-se ao lado de alguém, perto, próximo, exige coragem, ainda que não haja toque, porque há olhar. E esse vai muito além do tato. Exige postura, porque a gente pode se desequilibrar e cair... Doente. Exige jeito, um traquejo de movimentos para que o corpo fale a linguagem correta. Exige uma certa diplomacia, para não invadir espaços.

Sedia, silla, chaise, chair, stuhl, stoel, não importa o idioma. Não é preciso falar nada para sentar-se ao lado de alguém. Basta querer contato, algum tipo de socialização, sinalizar desejo de intimidade, cumplicidade ou mera falta do que fazer.

Metaforicamente, sentar-se ao lado de alguém é ser simpático, solidário, companheiro. É estar à disposição, oferecendo um colo mais confortável que o assento da cadeira, suavizando os momentos, amortecendo os impactos da vida. E eles são tantos!

Quantas vezes já dissemos a alguém: “Você quer se sentar?”, “Por favor, sente-se” ou “puxe uma cadeira”, e recebemos como resposta: “obrigado, estou bem de pé”? Leio isso como “Não tenho tempo para você”, “Não quero proximidade”, “Isso não é importante”, “Tenho mais o que fazer”.

Atualmente, é triste constatar que cada vez mais cadeiras ficam vazias. As pessoas não se sentam mais próximo umas das outras, a não ser quando não há mais lugar nem jeito ou desculpa. Deve ser algum tipo de fobia idiota. Mal sabem que permanecer de pé é muito mais difícil.