24 maio 2007

Eu, eu mesma e os homens



Minha prima convidou-me a comentar sobre um "manual da mulher bem-resolvida", composto por alguns parcos fundamentos que pretensiosamente tentam resumir esse complexo mundo dos relacionamentos entre homens e mulheres. Escolhi algumas das "regras" para comentar aqui com base única e exclusivamente na minha interpretação pessoal; não é uma verdade absoluta e, como tal, é passível de críticas. Não é bem o tipo de texto que gosto de escrever (até porque a redação dessas "regras" desmoralizaria qualquer tentativa de construir um texto literário), mas minha consideração me impede de declinar um convite da Glau.




Eu não acredito em manual, porque qualquer tipo de manual é feito para coisas produzidas em série, que precisam ser entendidas e corretamente usadas. Homens, para mim, não são iguais, do contrário teriam número de série — e, do jeito que o mundo anda, é o que vai acabar acontecendo com todo ser humano —, não são coisas, embora precisem ser entendidos, e, apesar de quase sempre merecerem, não têm de ser usados.

A regra número um desse manual diz que, "se ele se interessou, ele liga!". Tem cara que não liga. Pra nada. E, sinceramente, de que adianta ligar para cumprir um protocolo tido como de praxe? É algo preestabelecido pela sociedade o cara ter de ligar se estiver interessado? Se o motivo da ligação for esse, não, obrigada. Ele tem de ligar porque quer (desesperadamente?) falar comigo, porque se sente bem conversando comigo, porque sente falta de conversar comigo, porque se preocupa e quer saber se eu estou bem, porque quer me ver. Ligar puramente para dar sinal de que está interessado, cumprindo esse papel ridículo de "eu sei que preciso ligar porque é isso que ela quer que eu faça", mesmo sem estar com vontade ou coragem ou estado de espírito pra isso, é sinal de covardia. E não tem nada mais patético do que homem covarde. Então, é preferível o cara levar um século para ligar, mas demonstrar sinceridade e espontaneidade na ligação, do que ligar imediatamente, mas receoso, cauteloso, no melhor estilo "vou ligar porque é isso que ela espera de mim". Ser bem-resolvida, para mim, é nunca esperar, para não quebrar a cara depois, o que, invariavelmente, sempre acaba acontecendo.

O segundo passo aconselha o seguinte: "Passou uma semana sem ouvir notícias dele? Esquece, parte para outra! Ligar para saber se tá tudo bem nem pensar!". Nem pensar em seguir um conselho absurdo desses, isso sim! São atitudes como essa que minam a comunicação, a sinceridade, a intensidade dos sentimentos, a demonstração de sensibilidade. As pessoas começam a se enganar, porque fazem o que lhes é dito em vez daquilo que sentem vontade de fazer. Isso é falta de integridade e é exatamente o oposto de ser bem-resolvido. Estar com vontade de fazer algo e não fazê-lo porque todo mundo diz que não, porque o livro de auto-ajuda diz que não, porque a mãe e a irmã da amiga dizem que não, porque o teste do mês da revista feminina famosa diz que não é falta de personalidade, é medo de levar um fora ou de pagar mico ou de passar por ridícula convertido em desculpa. Uma mulher bem-resolvida tem certeza do que quer e, se preciso for, ela conquista, ela tenta, persevera, demonstra o que sente. As várias formas de fazê-lo é que variam, condizendo com a personalidade de cada fêmea. E, se ela tiver uma boa auto-estima, que isso é a chave para a maturidade emocional, então ela vai perceber quando o cara de fato não estiver a fim dela (porque a maioria deles não tem coragem de dizer na cara da gente, com todas as letras, que não quer nada. Puro comodismo ou medo de ser interpretado como mau caráter, de assumir o que pensa e dar a cara para bater convertido na desculpa esgarçada "eu não vou magoá-la". Ou, o que é pior, forma besta de manter a garota na agenda para poder entrar em contato num momento de carência profunda). Uma mulher bem-resolvida vai parar, naturalmente, de se fazer notar. E vai viver a vida dela do jeito que ela souber, ainda que triste e melancólica por não ter sido correspondida. Nada que doses homeopáticas de amor-próprio não curem.

O terceiro conselho imperdível: "Vocês saíram e ele não ligou mais. Foi porque você cedeu? Ou foi porque você não cedeu? Na verdade, pouco importa. Se o que ele estava a fim era de sexo e rolou, ótimo! Sexo é que nem pizza: bom-até-quando-é-ruim". Como levar a sério um manual que traz "que nem" e reduz o ato sexual à culinária fast-food?! Questões lingüísticas à parte, bem se vê que a pessoa que redigiu isso ainda não saiu do primeiro passo, o que indica que é mal resolvida e que, portanto, não tem cacife para dar conselho nenhum sobre o assunto, porque ainda está encanada com o fato de o cara ter ou não ligado. (Filha de Deus, pare de pagar a conta telefônica que seus problemas acabam. Aí, sim, você poderá mergulhar nessa crise do ninguém me liga e morrer se perguntando se ele não ligou porque não tinha linha ou se foi assassinado pelo homem da companhia telefônica ou se houve uma enchente na casa dele que levou o aparelho telefônico embora e o deixou ilhado sem qualquer tipo de comunicação.) Uma mulher bem-resolvida vai para cama com um cara independentemente de ser a primeira, a segunda ou a vigésima vez que sai com o ser. Se ela sabe o que quer, se o cara é confiável, se ela for segura e se sentir à vontade com ele, ela cede (que verbo mais infeliz!) quando bem entender, e é porque ela quer, não porque ele insistiu. A mulher é a guardiã do sexo, a decisão é sempre dela. Pode ser o deus grego que for, se ela for bem-resolvida, não vai se arrepender de atitudes que tomou. Vai enfrentá-las e aprender com os erros. Ou se vangloriar pelos acertos.

"Mas se você não cedeu, ele provavelmente não te procurou mais porque achou que ia dar muito trabalho. Ou seja, pare de se atormentar porque transou ou não! Duas lições: dar uma de difícil depois de uma certa idade já era! Ridículo é fazer tipinho! E, além do mais, você vai se arrepender de ter cedido e de não ter cedido." Esse negócio de "dar uma de difícil" é coisa de mulher que está acostumada a fazer joguinhos o tempo todo e se esconde em si mesma porque não é capaz de se entender. Tudo para ela é indireto, camuflado, como se fosse preciso se comportar em código o tempo todo. Ela até encontra homens que se sentem "desafiados" em "decifrá-la" (argh!), mas são uns fulanos que têm pouco a oferecer e se contentam com pouco. São homens cuja auto-estima já era faz tempo. Os que interpretam um "não" de uma mulher bem-resolvida como um "comportamento típico de quem está dando uma de difícil" não estao preparados para ficar com uma mulher assim. São imaturos, incompreensivos e insensíveis, além de extremamente egoístas e pretensiosos, por acharem que ela está se dando o trabalho de fazer esse teatro idiota para se valorizar. A mulher bem-resolvida se impõe naturalmente, ela não precisa de subterfúgios. Por isso ela assusta, como eles gostam de enfatizar, porque eles não sabem lidar com transparência, o que simplifica tudo. Ela não "faz tipo", não se baseia na idade para tomar ou não determinadas decisões e não se comporta de modo a querer testar o cara para ver se ele de fato quer ou não algo com ela. Mulher que age assim espera que o homem a valorize porque ela própria não o faz.

Em relação à traição, o conselho é taxativo: "Não continue com um cara que te chifrou se você não agüentar a onda de ser traída de novo. E olho vivo se ele já foi infiel com outras. A gente sempre acha que com a gente vai ser diferente... Esqueça! Nunca é!". Isso é o que eu chamo de falta de esperança no ser humano. Eu luto diariamente contra generalizações, porque entendo as pessoas como únicas e trato-as de modo personalizado porque é assim que as enxergo. Massificar os relacionamentos e seguir cartilha num assunto tão delicado como esse da traição é ser ou ingênuo ou maria-vai-com-as-outras. A mulher bem-resolvida está aberta para tentar entender os acontecimentos, compreender o parceiro e analisar as situações com parcimônia. Vai aceitar ou não ter sido traída dependendo da própria auto-estima e do amor que tiver pelo parceiro. Cada um sabe de si e só se engana se quiser. Até isso é opcional. Se ela tiver consciência de que merece sinceridade e respeito, vai se fazer respeitar e vai respeitar também. Se souber que o parceiro já foi infiel com outras, cabe a ela tentar entender os valores que o parceiro tem, se mudaram ou não, porque as pessoas podem, sim, mudar. Mas elas sempre dão indícios de que mudaram por meio de atitudes; só palavras não bastam.

Para terminar a sessão cascata, o manual de meia-tigela fecha com chave de ouro, no mais batido lugar-comum: "E atenção! A 'fila anda'! Pior do que nunca achar o homem certo é viver pra sempre com o homem errado". Essa coisa de fila é conversa para boi dormir. As mulheres falam isso para tentar se defender do "efeito falta de homem no mercado". Não existe fila coisa nenhuma, pelo menos não para a maioria delas. Elas é que mudam de fila e vão para a fila de outros homens, pegam senha e tudo, esperando chegar a vez. É machista dizer isso, sim, eu sei, mas é o que acontece. Homem certo e homem errado são valores relativos. O que é o certo para uma pode ser o errado para outra e vice-versa, do contrário todos os "errados" estariam sozinhos. Não existe isso, porque as pessoas nunca estão totalmente prontas. Os relacionamentos as lapidam, as amadurecem e as ensinam a tornarem-se o certo para a pessoa com quem estão, sem perder sua individualidade.

Para mim, é assim que tem de ser. E, para esse aprendizado, infelizmente ainda não existe manual.


9 comentários:

Anônimo disse...

Ahhh, muito bommm... todas as mulheres poderiam pensar como vc né ? Hehe

Abraços!

Anônimo disse...

ARRASOU!!!
bjs
Jana

Eline disse...

Achei seu blog por acaso!
mais concordo com vc em praticament tudo!...

Anônimo disse...

Vc devia escrever mais sobre esses assuntos"não literários". Seu ponto de vista é interessante e debater sobre isso sempre melhora a comunicação entre homens e mulheres. Gostei!
E obrigada por aceitar o desafio.
BJSSSS

Ricardo disse...

De minha parte, só gostei do intróito. O resto acho que foi meio "contra" seu estilo. Enfim...

Glau, me perdoe, mas vou discordar de vc: acho que ja´tem muita gente escrevendo sobre "não-literatura".
Comunicação entre homens e mulheres é coisa complicada, e por isso mesmo interessante.

Anônimo disse...

Se todos pensassem assim, não fossem hipocritas, seguindo manuais de como ser feliz, as relações humanas, pelo menos as amorosas, seriam facil e intensamente vividas...

parabéns pelo texto e pelo pensamento...

bjão

Ricardo Montero disse...

Eu sempre desconfiei de manuais. Você "rasgou" esse manualeco página por página, com argumentos lógicos. Aliás, lógica de advogado em tribunal... Item a item, até atingir o resultado desejado.

Anônimo disse...

Esse tipo de "manual da mulher bem resolvida" é a coisa mais ridícula que já criaram.
Tenho até pena da fulana que o escreveu. O pior mesmo, são as defensoras do mesmo, que vivem como se fossem integrantes de uma gangue de mulheres, tendo como único objetivo obter um "saldo positivo" ao final do relacionamento. O cálculo para esse saldo é muito simples, se a mulher "aprontou" mais do que o homem durante o relacionamento, então é se considera como "a vencedora", se ela consegiu demonstrar mais indiferença durante o relacionamento, então, será o momento de êxtase para elas, é aquele momento em que ela pode se olhar no espelho e dizer que venceu.
Se o relacionamento foi bom ou não, pouco importa, o que vale para elas é apenas ter a sensação de que é uma grande "conhecedora" dos homens e por isso soube jogar o jogo e sair vencedora.
É um tipo de mulher engraçado, porque se consideram super modernas e independentes, mas vivem a vida exclusivamente em função dos homens elas tratam como grandes adversários.
Elas se acham malandras, experientes e descoladas, mas no final acabam servindo apenas como um simples objeto de prazer momentâneo para os homens.
Todo sábado à noite, elas se aprontam para a balada, e seu grito de guerra preferido é algo do tipo "a gente pega, mas não se apega", com esse lema em mente, elas acham que "fazem e acontecem". Mas o que exatamente elas fazem? Fazem exatamente o que os homens da balada esperam que elas façam, quer dizer, sexo no primeiro encontro. E o que acontece? Acontece a mesma coisa de sempre, embriagadas de tanta "esperteza", caem mais uma vez no mesmo papinho, daquele mesmo tipinho de sempre, que em poucos segundos "iludiu(?)" a pobre “bem resolvida”, e se utilizando da mesma conversa de sempre, induz a mesma a acreditar que se ela fosse ao motel com ele naquela noite, ele cairia de amor por ela, e imploraria para que na semana seguinte ela saísse somente com ele ao invés de ir para a balada com as amigas. No dia seguinte, a "bem resolvida" começa a ser incomodada por uma pequena depressão vinda da consciência de que toda sua "esperteza" não foi suficiente para avaliar a situação e perceber que ela caiu na mesma conversa de sempre. Porém, por incrível que pareça, na semana seguinte, essa mesma "bem resolvida", estará novamente, no mesmo tipo de balada da semana anterior, e interagindo com o mesmo tipo de homem que freqüenta as tais baladas, e mais uma vez caindo na mesma conversa.
Mas, como a imbecilidade é algo ilimitado, ela dirá que são os homens que não prestam,(e na memória dela, terá centenas de lembranças que comprovam essa sua teoria de que quem não presta são os homens). Ela poderia também, chegar a conclusão mais lógica, de que a vida de uma mulher seguidora desse tipo de manual é sempre a mesma. É uma mulher que acredita que os relacionamentos são um grande combate, e está sempre armada para o mesmo, se esquece apenas, que num combate, independente de quem vença, uma das partes será eliminada, ela ficará sozinha novamente.
Os anos passam, e ao invés de ter um amor para recordar, ela só terá uma centenas de cálculos, que provarão para o mundo que foi a "bem resolvida" quem levou a melhor nos relacionamentos com os homens. Nunca realmente amou, nunca foi realmente amada, mas ainda se vê como “a grande vencedora”. O que exatamente ela venceu ninguém sabe.
Talvez digam que sou um homem machista, mas o fato, é que 99,9% dos homens, continuam classificando as mulheres como “mulheres para casar”, e “mulheres só para sair”, não preciso nem dizer em que classificação as seguidoras do manual se encontram.
Kandy, adorei tudo o que você escreveu sobre esse manual! Parabéns!

Tatiane Battistela Zambrim disse...

Oooi.
Estou passando por aqui, pra divulgar a criação no meu blog.
Pretendo postar todos os dias textos sobre o misterioso mundo feminino, citando também o misterioso mundo masculino.
Gostaria que você fizesse uma visitinha lá e deixasse sua opinião.

Brigaduuu.

http://www.complicamostudo.blogspot.com