Chega, pra mim tà tudo acabado. Nada vai me fazer mudar de idéia.
Sete anos, você tem noção?! Foram sete anos de cumplicidade, de companheirismo de que eu estou, sim, abrindo mão. Cansei simplesmente, apesar de sentir assim uma pontada de pena, uma tristezinha assim... apertadinha, sabe?
Eu sei, isso magoa. Mas tem hora que não dá mais. Você está careca de saber o que eu penso (ai, ai, e põe careca nisso...), eu nunca te enganei. Nunca disse que seria eterno. Ainda mais hoje em dia, quando tudo é assim tão, tão... substituível. Tem tanto vovô por aá que troca a "caranga velha de guerra" por duas ou três "máquinas" mais jovens... Por que eu não posso trocar você por outro e recomeçar do zero? Vida nova, sabe? Por que sou mulher? Pois eu posso, sim! E, convenhamos, você não é lá assim aquela "potência" pra me deixar empolgada a ponto de me fazer repensar nossa relação. AliÁs, diga-se de passagem que "potÊncia" não é a palavra mais adequada, né?, porque várias foram as vezes em que fiquei a ver navios na primeira tentativa. Na segunda você entendia a gravidade da situação e até que dava sinal de vida, mas tinha de se esforçar de um jeito que, sinceramente, tem de ter fé, viu? Pensando bem, é, eu me satisfazia com pouco.
Apesar disso, você nunca me deixou na mão, não vou negar. Sempre me levou pra tudo que foi lado, eu nem precisava pedir. Um verdadeiro cavalheiro, você sabe. Foi subserviente, resignado. Nunca se rebelou, fez greve, saiu por aí dando piti com aquelas fumacinhas de histórias em quadrinho, nervoso e sendento por vingança. Nunca foi esquentadinho, ao contrário! Uma calma irritante, uma frieza interior incapaz de esquentar sequer meus pés nos dias frios. Isso eu sempre relevei, porque não se pode ter tudo, não é verdade?
Mas tudo bem. Não quero parecer mal-agradecida, até por isso é que decidi te chamar pra conversar e falar tudo, assim, abertamente. Você foi competente, considerando-se todo o nosso histórico. Você me abrigou de uma série de intempéries, inclusive emocionais. Aturou, sem se envergonhar, a minha voz estridente cantando feito um candidato desafinado de programa de auditório, ouviu atentamente as minhas lamúrias, até presenciou momentos históricos de falta de educação... tudo impassível, numa compreensão que, eu sei, vai ser difícil de achar em outro. Você agüentou o tranco, eu admito. Nunca sumiu, porque essa coisa de sumir deixa qualquer mulher fula da vida. A gente conta com o ser e, quando vai ver, cadê? Puft, meu bem, puft! Você, não. Pelo menos isso, hein?! Da nossa cumplicidade, meu querido, eu vou sentir saudade.
Então, por que não dá mais, você me pergunta... Os relacionamentos precisam se modernizar, meu bem. Você parou no tempo. Eu sou uma mulher moderna, que precisa de uma certa estabilidade, você me entende? Não dá pra ficar balanceando tudo assim, toda hora, como quem não tem mais o que fazer! E outra: você está me levando à falência. Hoje dia, queridinho, o dinheiro fala, sim, mais alto. Não dá pra ficar te bancando assim. Você vive duro! Tenho de me desdobrar em mil, tirar forças sabe Deus de onde pra conseguir sair do lugar. Eu sou uma lady, mereço conforto, bajulação, comodidade. Não sou eu que tenho de pagar por isso! Sua obrigação, como parte atuante neste relacionamento, é prover o mínimo de conforto à sua família. Mas, que nada!
E tem mais: todos os livros de auto-ajuda do mundo — eu disse do mundo! — afirmam categoricamente que existe, sim, a tal crise dos sete anos. Foi isso. Deu o estalo, entende? Eu acordei um dia, olhei para você daquele jeito de manhã e me desencantei. Você ronca de um modo que não dá pra suportar! E no começo não era assim, você lembra? Agora?! Jesus me salve! A gente não pode encostar, dar um tranquinho um pouquinho mais agressivo pra deixar as coisas mais emocionantes, sabe?, que você já se desmancha que é de dar dó. Acabado, pra dizer o mínimo. Até a cor você perdeu, anda meio pálido pelos cantos. Anda é modo de dizer, né, porque rápido você nunca foi. Agilidade não é mesmo sua característica principal. Você é prático e tal, quebra um galho. Mas que mulher sou eu que se contenta com um quebra-galhos? Olha pra mim, criatura! Tenha piedade, não?!
Entende agora, meu amigo — ai, quando a gente chama de amigo é porque não tem mais jeito mesmo, né? Olha, pensa pelo lado positivo: se eu dissesse "fofo", seria pior... —, o motivo de eu estar te trocando por outro? O outro apareceu, é mais bonito inclusive. E eu não sou cega! Um bonitão me dando mole? Dependendo da idade, querido, a gente não pode ficar pensando muito, não! E, sabe o que foi decisivo pra mim? Diferentemente de você, ele não tem problemas com álcool. Vai ser muito melhor pra mim, compreende? Não vai haver desgaste na relação. E ele vai me proporcionar o que você não consegue, é melhor nem entrar em detalhes, não quero te magoar ainda mais...
Pra variar você não fala nada, não? Sempre quieto, resiliente. Você não se sente usado, não?! Bom, já que você não se manifesta, agora vem o pior: eu vou te depenar. Tô sendo honesta, tô falando porque detesto falsidade. O pouco que você ainda tem com você, seus parcos pertences, já era, meu bem. Eu vou ficar com t-u-d-o, tudo, ou melhor, com o que restou, que chamar de tudo é superlativo.
Sete anos de fidelidade, de cumplicidade. Você me conhece bem, foi quem mais andou comigo nesse tempo todo, então nem vem dizer que eu te enganei e tal e coisa. Como sempre, estou sendo supersincera e abrindo meu coração pra você. Eu te agradeço por tudo, pela paciência inclusive, porque eu sei que me agüentar não é fácil (apesar de eu ser leve! Isso facilitou sua vida, hein? Fala sério!). Ã, desculpe a brincadeira, isso não é hora de ter ataque de bom humor, mas, você sabe, esse meu lado sarcástico incontido é fogo!
Não fique triste, alguém vai te encontrar e te achar o máximo, como eu te achei um dia. Você pode fazer alguém feliz mesmo, er... er..., com as suas limitações. É difícil, eu sei, ouvir isso não é pra qualquer um, mas eu tô sendo legal em te alertar e sei que você é forte e vai superar. As pessoas têm de começar por algum lugar, né? Relacionamento é isso, fofo, ops, amigo. Na boa, você me entende?
É que realmente estava mais do que na hora de eu trocar de carro.
Para o meu Pálio verde, de quem vou sentir saudades agradecidas por 81 mil quilômetros sem sequer furar o pneu ou ter de chamar o seguro.
14 comentários:
Já tava achando voce uma "monstra"...rs
Felicidades com seu carro novo...
Perfeito, pena que já no começo eu descobri quem era o "abandonado". rsrs. Ricardo
Senhorita Kandy,
Não sei como te agradecer por leituras deliciosas.
Se eu comecei a te ler por curiosidade, hoje o faço por puro egoísmo e é isso.
Obrigado.
Sete anos? Ele já devia andar meio capenga...
Perfeito!!! Me enganou direitinho!!!! KKKKKKKKKKKKKKK
Até cheguei a pensar que houvesse realmente uma mulher capaz de dizer e fazer tudo isso! KKKKKKKKKK E o melhor de tudo... "ELE" reagir desse jeito.
Beijos e mais uma vez Parabéns!
hahahaha muito bom kandy...
enganou perfeitamente.
Você consegue superar sua genialidade em cada texto..
amei o texto, e com a surpresa nofinal, então, ficou perfeito!!!
Parabéns
Sacada de mestre este texto! :)
Fiquei muito feliz por esta sua conquista, Kandy!
E que seu próximo relacionamento
comece bem e com todo 'gás', hehe! ;)
Beijos!
Kandy!!!
Adorei o texto.
Sempre bem-vinda no meu blog ok?
bjao
Sete anos sem furar pneu? Você tem o corpo fechado. Mas, realmente, potência seduz homens e mulheres...
Então pegue sua "caranga" nova e venha me visitar!
Kandy!!!
Ri muito com o texto.Saquei do começo que vc tava falando do carro!!Mas carro novo é tudo de BOM!!Coisas novas trazem acontecimentos novos...é só esperar!!!
Muito legal!
Boa sorte na sua nova paixão!BJS
no começo eu senti medo
depois passou (rs)
Muito bom...Vc é uma indicaçao maravilhosa do "Pensar Enlouquece"
Parabéns.
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