Para um Querubim
Espíritos independentes não estão acostumados a receber ajuda. Às vezes porque foram habituados a ser assim; às vezes porque estão sempre ilhados em suas próprias convicções, ou, ainda, porque se cansaram de se decepcionar com as pessoas. Esperar dos outros nem sempre é um costume sadio.
Mas há comportamentos que desarmam. Eles vêm envoltos em tanta espontaneidade que o ineditismo espanta, cala as desconfianças, apazigua a resistência. (Você está vendo? Há estrelas no céu!)
E essas tímidas aberturas que a vida proporciona ensinam que poder contar com alguém é ter o travesseiro preferido sempre à mão, envolvendo-se naquela sensação morna de aconchego para respirar quieto um monte de tranqüilidade. É sentir-se em casa mesmo estando no Chile, no Amazonas ou perdido em alguma rua estranha de cidades grandes demais. É uma noite de sono profundo sem interrupções em um lençol limpinho e todo branco.
São promessas que sempre serão cumpridas, gritos que nunca serão dados, escolhas que não precisarão ser feitas. (Alívio.) É ficar à vontade para errar quantas vezes forem necessárias, sem culpa ou temor de repreensão, porque saber que há alguém com quem contar é ver um guarda-chuva em cada abraço, é sentir sossego com cheiro de camomila, santo remédio para tirar qualquer frio na barriga.
Confiar é terceirizar a razão, adoção sem perguntas. (Olhe para as estrelas. Elas estão lá ainda que não as veja.) É mesmo debruçar-se no desconhecido, deixando-se desequilibrar se preciso for, com um espírito aventureiro esparramado no que a gente não tem, mas que sabe que está lá, sempre, como chão firme sob os pés. (Não precisa mais olhar para baixo.)
Pessoas assim, sempre de braços abertos para amortecer passos em falso, que envolvem feito cobertor sem que seja preciso dizer que se está com frio, são alguens com quem contar. E pode ser tudo em silêncio, porque elas lêem a alma. São incondicionais, não têm relógio ou compromisso inadiável, melindres ou complexos, apenas uma compreensão almofadada disfarçada em um olhar que tudo diz.
E, para ter com quem contar, tudo o que é preciso fazer é olhar para cima (as estrelas existem) e parar de pensar sozinho.
7 comentários:
"Esperar dos outros nem sempre é um costume sadio." A frase virou lema de vida!
=)
Saudade de passar por aqui e apreciar teus textos.
^^
Prometo começar a olhar mais para cima.
beijos, abraços e aquele bom e velho cheiro de camomila que acalma é necessário!
uma dose disso por dia e as pessoas seriam melhores!
sem duvidas!
muito bonito seu blog!
PARABÉNS ...
agora virou leitura diaria!
um beijo
Luciana
Parece que os anjos estão por perto.Que bom!
...Passaram lá pelos "diários" também. Você viu?
Um beijo
Silvana
Se tenho algo a dizer? Tenho muito! Pois me identifiquei muito com o que descreveste; sou como o vento. Levo meu guarda-chuva para onde for; não gosto de depender de ninguém, mesmo na tempestade. Mas meu guarda-chuva é bem grande (tão grande que o chamo de guarda-mundo) e gosto de dar uma carona nele para quem não tem ou não está com o seu. É como muito bem disseste: "confiar é tercerizar a razão". E eu assino embaixo.
Um beijo de elfo-barbudo no meio da testa! =*
PS: Recebeste a minha carta?
Vinícius, adorei a sua metáfora do guarda-mundo. Extremamente poética! privilegiados os que podem usufruir da sua simpática companhia debaixo de um guarda-mundo! Sim, eu recebi sua carta (e adorei!), mas quero respondê-la com a dedicação que ela merece. Nela explicarei por que ando tão omissa com o blog e por que demoro tanto a responder a sua carta e à de outra amiga minha. A paciência é mesmo uma virtude, não? Beijos!
Me lembrou Olívia e Eugênio, de "Olhai os lírios do Campo". Eu sempre achei que o Érico estava inspiradíssimo ao escrever esse livro, do mesmo modo que vc ao escrever este texto. Bravo!
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