Colocar as ideias na janela é deixá-las à vista, tomando sol, para não embolorarem por ficar guardadas por muito tempo. É abrir-se para o mundo sem cadeados e trancas. É dividir o olhar com o "lá fora", num intercâmbio de interiores, trocando horizontes.
17 abril 2008
Volta e meia
É uma pessoa que só vai. Para cima e para baixo, como libélula que sempre procura água. Tem mesmo sede de conhecimento, porque carrega curiosidade em sacolas feitas de retalhos coloridos, como se a vida fosse assim, um punhado de remendos que se leva para lá e para cá. Para ela, as agulhas existem para costurar desafios, e as linhas dos mapas são todas imaginárias. Essa mulher vai sempre além.
Cheia de vida, é alguém de carimbos no passaporte, souvenirs na memória e passagens aéreas pelos lugares que visita, para quem "além" ultrapassa o mais para lá: significa o que os olhos não alcançam, a vastidão redonda que clama por ser conhecida. Por isso vai em frente, porque atrás vem mais, e sempre um mais que atropela. Não há tempo de sentir dor nem saudade; é preciso força para carregar a bagagem.
É uma mulher que não volta, porque não tem medo do que ainda não aconteceu. Vai sem data para retorno, sem planos, com sonhos e um espírito escancarado pronto para banhos diários de lavanda, cheirando a novidades que ainda virão no vento, enquanto o suor seca no varal.
Não carrega a casa nas costas nem peso no coração. Não arrasta culpa nem os pés, porque pisa firme e planta o apego na terra em vez de levá-lo nos bolsos do casaco florido.
Essa mulher vai longe, projetando coragem à frente, puxando a sombra atrás, sem chorar. Isso fazem os regadores. Porque ela, ela volta e meia pode ir sem voltar. Ela vive. O lugar.
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8 comentários:
Que lindo texto, que linda mulher.
Fico aqui suspirando. E me inspirando.
:-)
Um dia quero demais ter seus livros autografados (ao menos um você TEM que lançar). Não só eu, mas minha Sofia irá se orgulhar demais. Até vejo a cena, num domingo qualquer, ela a correr os dedos céleres na estante, à procura do Kafka (organizo meus livros por nome do autor, não sobrenome, mas o Kafka tem que ser Kafka, né? Franz não dá... :P): "mãe, você tem um livro da Kandy Saraiva autografado? Não acredito!" :)
Um beijo. ;)
Ah, Patrícia, que comentário gracioso, obrigada! E que honra, eu ao lado do Kafka na sua estante! Mas não sei... ando tão desiludida com o mundo editorial que não tenho vontade nenhuma de publicar nada. Mas isso é uma idéia de agora, e as idéias podem mudar, não? Beijo pra vc tb!
Patrícia, há muito tempo que venho dizendo isso pra Kandy. Quem sabe aumentando o coro a gente não consiga convencê-la de algo tão óbvio?
Viu, Kandoca, não sou só eu...
E desculpe a ausência...
E as reticências mal colocadas...
Kandy, querida!
Eu concordo com a Patrícia. É uma delícia ler os seus textos. Gosto demais do casamento que você faz com as imagens.
Ah, obrigado pelo carinho.
abração
Paulo Netho
Olá! Sou leitora recente do blog! E porque não concordar com os recados postados? Você escreve com a alma! Isso sim é importante! Serei uma das compradoras do próximo livro lançado...
Bjks
Ai, Dona Kandy... Então é assim: tô em Portugal num dia em que a saudade bateu forte (não, eu mesma nunca "só iria"). Saudade dos meus tecidos, do meu bairro, principalmente das "minhas pessoas", louca pra ouvir a voz ou mesmo (a modernidade) passar 10 minutos no msn com alguém amado. Primeira brecha que tenho em dias para usar o computador com calma, corro ansiosa mas... ninguém on line. Última tentativa é tentar matar a saudade pelo menos lendo os blogs que mais gosto e não visito há semanas. Só então vejo este texto. Pois... Tô aqui do outro lado e tu é que foi meu alento, meu chazinho de camomila. Mais uma semana e tô de volta. Mas desde já reforço o coro com Patrícia e os demais: livro teu pra ontem!
Obrigada sempre, querida! Um beijo enorme.
P.S. Lembro de ti aqui todo dia. Eu esqueci o adaptador. E não, NÂO EXISTE tomada de risquinho!!!
ai, eu adoro seu estilo de escrever, suas intertextualidades e a maneira poética que você dá aos textos de prosa. Além do mais acho que você expressa bem seus pensamentos sobre diversos assuntos, sem deixar seus textos com características de textos de opinião.
Gosto cada vez mais de visitar seu blog. Continue sempre escrevendo.=]
Você é formada em Letras ou Jornalismo ou já nasceu com esse dom e não precisou nem profissionalizá-lo para escrever esses textos?
Aguardo sua visita no meu blog, assim como sua resposta.
www.writteninthestars.spaceblog.com.br
Beijo.
Clau, muito prazer em conhecê-la! Bom saber que já tenho uma leitora virtual e real no caso de eu publicar um livro. Mas, por enquanto, isso não está nos meus planos... engraçado, né? Todo mundo tem essa pretensão de publicar algo, escrever livro, ser autor. Acho que pelo fato de eu trabalhar com autores, ajudando-os a publicar o que escrevem, eu tenha uma visão diferente. Talvez não seja a hora, vai saber. De qualquer modo, obrigada pelo incentivo!
Cleu, espero que você esteja gostando de Portugal como eu gostei. Mas ter esquecido o adaptador... tsc tsc... dei muita risada quando li. Judiação! Volte logo, mas, antes, não deixe de passar na pastelaria de Belém para comprar os famosos pastéis originais! Agora, em relação a publicar um livro, sou tão desiludida com o mundo editorial que atualmente isso não passa pela minha cabeça. Mas é uma idéia, e as idéias mudam...
Writteninthestars, obrigada pelos elogios, que bom que você gosta de ler o que eu escrevo! Sou formada em Letras, sim, mas sempre tive facilidade para escrever. Isso aliado à aprendizagem do idioma faz-me aprimorar minha técnica cada vez mais. E redação é técnica. Mas também é preciso ter boas idéias, um pouco de cultura, diplomacia, tato, sensibilidade. Escrever é treinar tudo isso. Um exercício estilístico. Atualmente sou professora de redação também, além de produtora editorial. Então, diferentemente do que muita gente pensa, é possível ser realizado profissionalmente mesmo tendo-se formado em Letras. O meu ganha-pão, quem diria, é a língua portuguesa... Visite o Idéias mais vezes. Vou visitar suas estrelas, com calma, no feriado, certo?
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