
O último dia do mês geralmente é o último dia de tudo.
Em um mês, a gente muda de casa, de rumo, de estado civil, de emprego, de país ou de plano, inclusive espiritual. A gente passa dessa pra melhor ou se enrosca de um jeito na vida que acaba pior do que o mês anterior.
A gente termina de pagar conta em prestações, abre novo crediário, torna-se mensalista, recebe mesada, juros de poupança, salário defasado e mais contas para pagar. A gente faz balanço, malabarismo, milagre, contabilidade, previsão. Espera o mês seguinte pra ver como vai ser.
Em um mês a gente se vira, vira a página, a mesa, a folha do calendário, o jogo. A gente termina ou começa uma dieta, fecha a boca, tira férias, a barriga da miséria, engole sapo e fica digerindo situações mal explicadas até o mês seguinte. A gente dá um tempo, se aperta, se aflige, se emociona, se encanta e se decepciona. Experimenta todas as épocas do ano para decidir qual a de que mais gostamos.
A gente pega chuva, gripe, pega mal, cura ferida e paga o plano de saúde torcendo para não ter de usá-lo.
A gente termina um projeto, um curso, um relacionamento, uma aposta. A gente pode até nascer de novo, morrer, ser desenganado, preso, solto, corrompido, absolvido, deportado, assaltado ou levado a tomar atitudes extremas. Deste mês não passa.
Em um mês a gente vê, com um pouco de sorte, um feriado, vê quatro luas, uma menstruação, quatro ou cinco semanas, duas ou três baladas, um escândalo, uma polêmica, um punhado de aniversários, trezentas medidas provisórias, uma inflação mais alta, muita violência, nenhuma mudança política num governo que é um zero à esquerda.
A gente leva adiante, leva calote, susto, soco no estômago, leva a mal, vai levando... levanta. Completa uma gravidez, um contrato, a idade, um raciocínio, um ciclo, um sonho, um período de experiência. Ou deixa para completar tudo isso daqui a um mês.
A gente fala quinhentas vezes "no mês que vem", pergunta outras mil em que dia do mês estamos, quantos meses faltam para a Páscoa, o Natal, as férias, o Carnaval. Pergunta, pergunta, se pergunta trinta, trinta e uma ou vinte e oito vezes a mesma coisa.
Mas em um mês a gente também pode achar respostas, graça, fazer uma descoberta, entrar para uma terapia, receber alta, herança, parar de tomar tanto tombo, tanto remédio e tomar mais sorvete, providência, atitude, ar.
Tomara.