É assim que a dona Lucy — "é com ípsilon, minha nega" — cumprimentou-me quando estive em Guarapari, no estado do Espírito Santo. Ela costumava ter um quiosque na Praia de Itaparica, perto da casa da Roseli, irmã da Rute. Então, por tabela, acabei conhecendo-a também, porque a Rute sempre visita a dona Lucy quando vai ao Espírito Santo.
Mesmo sem me conhecer, essa senhora risonha, bronzeada e bem-disposta tratou-me com uma doçura de madrinha, distribuindo espontaneidade em risadas sonoras carregadas de diversão. Ela sabe viver de um jeito invejável. Mas é uma inveja boa, como ela.
Nesse único dia em que passei com dona Lucy, aprendi um mundo de coisas. Além de me ciceronear, ensinou-me a fazer moqueca adaptada (porque nem eu nem ela comemos camarão), feita com um peixe fresco delicioso que fomos comprar na peixaria do magnata da cidade; a reconhecer o amor verdadeiro, quando descreveu em meia dúzia de precisas palavras como é o casamento com o marido; a ser simpática, pois cumprimenta Guarapari inteira com gentis boas-tardes entremeados por piscadelas conquistadoras; a entrar no mar gelado e ainda assim achá-lo quente; a tratar bem os animais, quando parou numa farmácia para comprar remédio para a cachorrinha dela; a cultivar plantas em vasos improvisados dispostos em tudo o que é canto da casa; a rir com programa de televisão vespertino e a amar o próximo com todo o imenso coração que ela carrega dentro dela.
Fomos a várias praias, à praça da cidade, ao bairro onde ela mora, ao céu... Porque a dona Lucy é algo de divino que habita este planeta. Ela come na panela, tira todas as toalhas do armário para te convencer a tomar banho no banheiro dela enquanto ela arruma o almoço, conta como Deus entrou na vida dela, como ela ajuda a comunidade, como cortar a batata para ela cozinhar mais rápido ou o que fazer com o pepino para que ele fique leve na digestão. Tudo isso quase ao mesmo tempo.
Mas a dona Lucy não apenas cozinha bem. Ela é o bem em uma pessoa inesquecível que resgata na gente todas as esperanças perdidas com trânsito caótico, comportamentos egoístas ou falta de consideração. Ela é destemida, clássica, sociável e atenciosa. Olha a gente com uma profundidade indizível, numa expressão serena e de bem com a vida.
Quem conhece essa senhora paulistana radicada no Espírito Santo — "e daqui ninguém me tira, turista, só se for pra eu voltar pra Osasco, onde fui muito feliz!" — entra em contato com o que de mais nobre o ser humano guarda dentro de si: o doar-se, com toda a boa vontade do universo, àqueles que de nós precisam.
É por isso que a partir daquele dia eu passei a amar Guarapari. Porque é lá que mora a dona Lucy.
5 comentários:
Gostei do post, talvez até por me lembrar do meu Vidas & Imagens. Bonitas as fotos, também!
Pois é, Kandy, existe tanta gente interessante no mundo e o que o povão quer saber é a respeito de celebridades de Caras...
tem pessoas que conhecemos que são tão boas e, apesar de convivermos com elas por tão pouco tempo, aprendemos tantas coisa que essas pesoas se torna inesqueciveis, né ?
Ainda preciso ver suas fotos...
ando muito sem tempo !!!
Bjão kandy
acho, sinceramente, que seu blog está começando a ficar perfeito
Oie
Deixei um desafio lá no eu blog pra vc!
Beijinhos e boa semana!
Concordo com o Josué,vc melhora a cada dia.
Se fosse campeonato de chavões e lugar-comum, faria a célebe comparação como o mosto fermentado de uva! rsrs
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