10 maio 2010

Bad romance

A Lady Gaga pode ser estranha, over, super, até mega. Mas temos de dar o braço a torcer: ela fala algumas verdades em suas letras que ninguém tem coragem de falar.

Ela descreve bem o que é um bad romance, a estranha liberdade que isso provoca. E, infelizmente, em algum momento da vida, todo mundo experimenta um. Porque amar mal é mais fácil, exige menos comprometimento e nenhuma verdade. A pessoa fica solta numa nuvem de confusão e acha a neblina comum.

É mais instigante amar um cafajeste ou uma vagabunda. Mais emocionante trair. Mais masoquista saber-se traído e continuar com quem foi infiel, alimentando aquela esperança besta de que o outro muda. Dá menos trabalho imaginar a mudança alheia do que promover a própria.

Um romance assim torna confortável a anulação. É cômodo ignorar a si mesmo em vez de ignorar o outro para sempre, mandá-lo passear ou sumir de vista. Ao contrário, aqueles que curtem um relacionamento assim têm o dom da contemplação: assistem a tudo de olhos bem abertos como se fechados estivessem, porque sabem que a dor de ver é maior que a de apenas desconfiar. E, para que fique tudo assim, imutável e quieto, com a mordaça do pensamento calam a intuição. Mentem para si mesmos.

As pessoas amam mal. Amam nas coxas, de qualquer jeito, empurrado, no modo automático, numa espécie de eterno stand by, na tentativa de congelar a situação e não deixá-la ficar ainda pior. Aos poucos, contentam-se cada vez com menos. Não se esforçam nem se respeitam. Fingem. Dissimulam. Mentem. E não sentem remorso.

É. Não sentem.

O beijo de Judas - esculpido na fachada da Catedral da Sagrada Família, de Gaudí
Barcelona - Espanha

7 comentários:

Unknown disse...

Oi, Kandy! Não conheço essa música, mas vou procurar para ouvi-la. Concordo com tudo que escreveu, e o pior é que isso está cada vez mais comum entre as pessoas. Realmente é uma pena! Beijos

Vinícius Rennó disse...

Só para constar, há uma versão à capela dessa música, muito bem humorada e interessante: http://www.youtube.com/watch?v=M8PAuvxCZuM

Agora sobre o texto, eis o que tenho a dizer:
Quase nada é o que parece. A maioria finge sentir o que não sente. O que se diz é o oposto do que se pensa.

A sinceridade é um defeito de poucos.

elke julie disse...

Sempre sintetizando um pensamento com perfeição!

Por que esta necessidade tão imensa de amar o que sabemos que não é real?

Fernanda suaiden disse...

"Dá menos trabalho imaginar a mudança alheia do que promover a própria."
Pura verdade.

Cris disse...

Pois é, e quando se tem consciência de tudo isso e ainda sim se repete, repete, adorei o texto.

[ARNON] disse...

Belíssimo texto... Gostei muito.

Isa Sotero disse...

Olá Kandy
Adorei o teu blog e principalmente este belíssimo texto. Simples e muito significativo.
Muitos parabéns!