19 outubro 2006

Fado diverso

Basta.
Tirarei férias de mim
[mesma
para procurar ausência
e neutralizar atitudes
que nunca tive.

Há vontades que não
[esqueço
por se fazerem lembrar
[a todo momento.

Há desejos insones,
teimosos em manter-me
[acordada,
mais prováveis no mundo
[dos sonhos.

Não sossego.
Ando numa onda de inquietação irritante
em que todas as vontades formigam.

Cansei de esperar
o que não conheço ou quem nunca vi.
Não tenho mais fôlego
para acenar para o que não me enxerga
ou procurar o que nunca me encontrou.

Sufoquei de tédio,
paralisei princípios,
que agora se dispersam devagar
rastejando estorvo.

Não sei se contenho essa dispersão
— num gesto óbvio de quem valoriza resquícios —
ou se deixo tudo escorrer para esvair-me junto
num desaparecer consentido.

Por mais que me esforce,
eu persisto, resisto, não passo.
Tardo e permaneço
ao arrastar sobrevivência.

Murcho gradativamente
ainda que incapaz de esvaziar-me e diluir-me
em esperanças aguadas de horas inexistentes.

Sou sem existir,
porque inócua me transformo
em descrenças que não quero ser.

(Querer é verbo anômalo,
que para certas coisas
é preciso abolir do vocabulário)

Se sou desejos e vontades espalhafatosos;
se anseio, teimo e insisto,
querer é o que move meus instintos
dilacerados e roucos berrando para o nada.

Mais fácil ser nada,
sentir nada,
querer nada,
mesmo tendo quase tudo.

Desisto.
Abro mão desse tudo.
É o quase que me faz falta.



2 comentários:

Anônimo disse...

Kandy,
Maravilhoso!
Se tirar férias tem esse efeito, deveríamos ter férias no mínimo umas 3 vezes ao ano!
Bj,
Te

Anônimo disse...

excelente:)
bjs, da amiga q tah com saudades,
Jana