28 maio 2007

Esta data querida

Vila Velha - ES

Há um ano eu tinha idéias que hoje se multiplicaram. Eu pensava, pensava e pensava, mas deixava tudo trancadinho na minha mente, talvez por falta de diálogo, preguiça em transformar em tipologia ou autocrítica exagerada freando iniciativas. A literatura tem disso: precisa de interlocutores para existir; do contrário, não passa de palavras.

Palavras todos temos, aos montes, brotando a todo instante, tagarelando dentro da gente como matracas históricas. O desafio reside justamente em organizá-las de um modo original, por vezes poético, fluente, impactante, de maneira a silenciar todo o barulho para provocar reflexão: um pensar suave, despretensioso e tranqüilo, gostoso de ler.

Isso é difícil. Faço essa afirmação com conhecimento de causa porque lido diariamente com autores cheios de idéias e (embora nem sempre) cheios de talento, mas que, no afã da criação, se deixam embaralhar. Minha função é desembaraçar tudo, colocando cada coisa em seu devido lugar, mas interferindo o menos possível, mantendo o estilo, a linguagem, o intuito. Aí é que está a complexidade da profissão: entender e incorporar uma intenção que não é a minha (sempre digo que o revisor é um leitor de intenções).

Por outro lado, é igualmente difícil olhar para o meu próprio texto com toda essa severidade neutra. E é exatamente isso que o Idéias na Janela faz comigo duas ou três vezes por semana: abre um horizonte de possibilidades para que eu me aprimore como profissional, como pessoa, como leitora, amiga, revisora, ilustradora, fotógrafa e autora. Este blog me multiplica, tal como fez com as idéias que eu tinha quando comecei a escrevê-lo.

Mas esse exercício de autoconhecimento não seria nada sem os diálogos que este blog me proporciona, ainda que silenciosos e imaginários, mantidos com leitores que não se manifestam por motivos vários. Não seria nada sem os comentários dos que quebram o anonimato e mostram outros enriquecedores pontos de vista. Não seria nada sem a participação freqüente de pessoas espetaculares, amigos maravilhosos, família e colegas de profissão que adotaram o Idéias como leitura assídua em seus movimentados dia-a-dias e deixam sempre registradas aqui valiosas contribuições pessoais.

Então, se este blog faz aniversário hoje, não é apenas pela minha perseverança e disciplina em escrever e postar textos, mas, sobretudo, pela troca de horizontes — proposta primeira deste espaço — que ele nos proporciona a todos.

Nesse um ano, e quase 10 mil visitas, não parei para pesquisar qual o texto mais lido (que não é necessariamente o mais comentado), o de que as pessoas mais gostaram, o que causou mais discussão, polêmica, estranheza ou fascínio. Eu simplesmente não sei informar essas coisas e vira e mexe me surpreendo. Às vezes, textos pelos quais eu não daria tanto quanto dou para outros emocionam mais e se evidenciam de um jeito literariamente descontrolado. Nessas horas eu comprovo que a literatura continua no leitor depois de ter sido concluída pelo autor. E isso é que é mágico: a ramificação dessas idéias em outras e outras e outras, parecidas ou completamente diferentes, motivadas pela organização preconcebida de palavras aos montes.

Eu mesma aprendo com o que escrevo quando releio cada texto, cada comentário, quando me dou conta da responsabilidade de ser lida por pessoas que não conheço, em geografias próximas ou distantes do meu computador. E fico imensamente feliz em andar pelo mundo assim, dessa forma virtual e invasiva, abrindo janelas por aí, para deixar idéias passarem em forma de intercâmbio.

Obrigada a cada um que lê ou já leu algum dos meus posts, aos novos amigos que passaram pela janela e pararam para tomar um café (e espero que fiquem, fiquem, fiquem nesse papo gostoso de cidade de interior). Isso me enriquece e me faz vasta, como toda pessoa deve ser. Isso me abre para outras dimensões e me coloca em contato com mais idéias, opiniões, diversidade.

Feliz aniversário para nós. Vida longa ao rebuliço de idéias que todos temos dentro de nossas janelas: o PENSAMENTO.


12 comentários:

Ricardo disse...

Como "a vida assim nos afeiçoa", tive a ventura de ser o primeiro a parabenizar-te pelo primeiro de muitos anos de idéias postas nessa generosa janela chamada Kandy.

God save the Kandy!

i disse...

Viva! Feliz aniversário!

Anônimo disse...

Que mais e mais horizontes sejam intercambiados nesta janela repleta de idéias, lirismo e sensibilidade. ;)

Anônimo disse...

Parabéns, Kandy! Que suas idéias fiquem expostas nesta janela por muitos e muitos anos ainda! :-)

;-)

Beijos

Anônimo disse...

onde diabos eu estava navegando que ainda não tinha parado aqui?

adorei seu blog, cheguei por link no fiapo de jaca, já favoritei :-)

parabéns pelo primeiro ano, se for pela qualidade do que você escreve, é apenas o primeiro de muitos.

Anônimo disse...

se eu tivesse a capacidade de organizar as idéias num texto como você faz, seria o escritor mais feliz do mundo...
parabéns pelo blog
grande abraço
seu fã

Anônimo disse...

E eu que andei com minha janela fechada...
Adorei seu blog."Revisor é um leitor de intenções."Muito bom.
Fiquei sua fã.

Anônimo disse...

Obrigada por colocar as idéias na janela, Kandy.:)

Bjs, da fã de carteirinha dos seus textos, (da época em que eram escritos em agendas disputadérrimas na Gv...)
Jana

Ricardo Montero disse...

Parabéns! Espero que seja o primeiro de muitos aniversários...

Fernanda suaiden disse...

Esta janela não pode fechar!!!
beijos saudosos...

Anônimo disse...

Kandy, você comemorando um aninho e eu ainda engatinhando, mas com sua força deu uma boa animada para continuar. Adorei trocar idéias ou pensamentos, e espero ficar em contato. Bjs Pat

André Martins disse...

Kandy, quase 2 anos depois do primeiro aniversário do seu blog, estou postando só pra dizer que é muito bom ter a sua janela como vizinha e olhar pra ela, cá de fora, e ver como suas flores são bonitas, bem cuidadas e atraem cada vez mais borboletas. E como dizia o poeta, esse é o segredo, cuidar do jardim (ou da janela) para que as borboletas venham.