15 setembro 2006

Tiro e queda

Ele estava desiludido. Razão e sentimento estavam em guerra, mas isso não era motivo bastante para abalar o coração da amada.

Naquela tarde especificamente, houve um cessar-fogo: o mundo daquele rapaz despencou e saiu rolando universo afora. E tudo ficou morto, sem graça, preto-e-branco, mudo e raso, desfocado, embaçado, sem rumo e espalhado, à-toa, chato. Lutara tanto para que aquela paixão fosse correspondida! Ele estivera em uma guerra! Será que ela não via isso?

Poderia acionar um canhão, armar catapultas de desespero, reunir um exército de emoções e muita munição cardíaca. Mas a razão prevalecera. Mais forte, bem equipada, contando com soldados de argumentos repletos de escudos nem sequer arranhados pelas flechas do Cupido.

Chegara à conclusão de que era melhor dar uma trégua. Aquele rebuliço todo não levava mais a nada. Enquanto pensamentos e palpitações guerreavam, outra nação tomou-lhe a amada. E, por um momento eterno, ele ficou ali, aos farrapos, vendo tremular, desolado, a bandeira silenciosa da decepção.

É preciso ser bravo. É preciso ser forte para resistir à dor que a chaga que toda essa guerra causa. É preciso ser destemido para ver todo o sangue fervendo de raiva.

Ele não sabe se haverá salvação, se o socorro chegará a tempo ou se todas as ataduras do mundo poderão cobrir aquela vastidão de tristeza. Mas, lá no fundo, sabe que vai resistir, porque se reconhece bravo e forte, teimoso e convicto, corajoso e capaz de ouvir o brado de toda uma cavalaria de esperança que galopa dentro de si.

É quando decide entrar de vez para a carreira militar e enfrentar muitas outras guerras. Vida digna de um herói romântico.


4 comentários:

Anônimo disse...

Obrigada, Kandy...

É tudo isso mesmo. Você me fez chorar. É que nunca fui objeto de inspiração de nada...
E é isso mesmo. Por um momento bateu a pergunta "Por quê?", mas na verdade ela deveria ser "Para quê?".
Acho que o direito de escolha é sagrado. O direito de tentar, de viver uma experiência também. Não importa como continue a história ou o seu final. Importa e muito o caminho. O meu, o deles, o seu, o nosso.
Porque ao fim da estrada vemos que nos tornamos pessoas melhores (se é que estamos comprometidos com o crescimento). E isso faz toda a diferença...
O soldado se apresenta para a próxima batalha.

Aisha Al Minyah disse...

Kandy, Kandy!
Artista e poeta!
Adorei todos os seus textos.
As fotos então, nem se fala!
Quando vai ser o lançamento so seu livro, hein?
Um abraço,
Bia

rafael fermiano disse...

e finalmente é transformado em mais um "galinha" da sociedade. Criado pelas amantes cegas

ótimo texto Kandy...

abraços e bom final de semana

Anônimo disse...

Fascinante...
para a fase que estou- rs, basta olhar meu blog, né- achei lindo...
bjs